Até Quando? A Luta Contra os Problemas Básicos nas Provas de Trail e o Desrespeito ao Atleta
- Douglas da Cunha
- 5 de mai.
- 5 min de leitura

Esse final de semana ocorreu a TUTAN - Transmantiqueira Ultra Trail Agulhas Negras é uma das provas de corrida de montanha mais desafiadoras do Brasil. Realizada na região da Serra da Mantiqueira, a competição passa por diversos municípios, incluindo Itamonte e Bocaina de Minas (MG), Visconde de Mauá (RJ) e Penedo (RJ).
E mais uma vez tivemos inumeros problemas de falhas na prova da TUTAN, onde altletas como Cris Campelo, Mariana Scarpelli, Daniel Nogueira, Ana Silveira, que vieram a publico reclarar sobre o ocorrido na prova desse final de semana.
A corrida de montanha cresce ano após ano. Mais atletas se desafiam em trilhas técnicas, desbravam altimetrias brutais e enfrentam condições adversas. No entanto, enquanto os corredores evoluem, muitas organizações parecem estacionadas no tempo, repetindo erros básicos que comprometem não apenas a experiência do atleta, mas sua segurança e bem-estar. Até quando vamos tolerar falhas previsíveis, como marcação de percurso deficiente, ausência de staffs e falta de estrutura mínima?
Os Problemas Mais Graves
A lista de dificuldades enfrentadas pelos corredores é extensa, mas alguns pontos são especialmente críticos:
Marcação de percurso deficiente – Se perder em uma área remota pode ser perigoso e frustrante. Uma marcação inadequada coloca corredores em risco e compromete toda a experiência.
Poucos pontos de hidratação – A necessidade de água é ainda maior em ambientes naturais. Não oferecer reposição suficiente pode levar à desidratação e outros problemas de saúde graves.
Falta de fiscalização e suporte – Acidentes podem acontecer, e corredores precisam de respaldo para emergências. A ausência de fiscais e estrutura de apoio torna tudo mais arriscado.
Desorganização em largada e chegada – O atleta já enfrenta um percurso desafiador e não deveria lidar com tumulto ou desordem nos momentos iniciais e finais da prova.
Desrespeito ao participante – O descaso na entrega de kits, atrasos injustificáveis e premiações desorganizadas refletem a falta de compromisso com quem investe tempo e dinheiro para estar ali.
O Que Esses Problemas Revelam
Nenhuma dessas falhas acontece por acaso. São sinais claros de planejamento insuficiente ou, pior, de negligência. A organização de um evento de corrida de montanha deve considerar todos os aspectos que impactam a segurança e experiência do atleta. Quando esses pontos são ignorados, o evento perde credibilidade e afasta participantes.
Caminhos Para Melhorias
A solução passa por um planejamento mais rigoroso e respeito ao atleta. Algumas medidas que podem transformar a qualidade das provas incluem:
Investimento na sinalização do percurso, com materiais adequados e fiscalização constante.
Reposição estratégica de hidratação, garantindo pontos suficientes ao longo da prova.
Equipes de apoio bem treinadas, prontas para agir em emergências e orientar os corredores.
Logística eficiente na largada e chegada, proporcionando um fluxo organizado e seguro.
Mais atenção e respeito ao atleta, cumprindo horários e assegurando a qualidade na entrega de kits e premiações.
Provas de corrida de montanha têm o potencial de serem eventos incríveis, mas isso só acontece quando organização e comprometimento são prioridades. Atletas dedicam meses ao treinamento e merecem encontrar no evento o mesmo nível de preparo que têm para o desafio. A solução está em planejamento, respeito e visão a longo prazo.
Impacto no Esporte
Quando provas são mal planejadas, o crescimento da modalidade sofre diretamente. Os atletas deixam de se sentir motivados a competir, e aqueles que poderiam iniciar no esporte acabam desestimulados antes mesmo de participar. Alguns dos principais reflexos negativos incluem:
Desvalorização da modalidade – Eventos bem organizados elevam o nível do esporte e incentivam a prática. Por outro lado, provas desestruturadas podem dar a impressão de que o trail running é desorganizado e pouco profissional.
Menos investimento e patrocinadores – Empresas buscam competições confiáveis para associar sua marca. A falta de estrutura afasta patrocinadores, reduz premiações e limita a evolução das provas.
Queda no nível técnico dos participantes – A ausência de organização pode afastar corredores experientes, deixando o evento com menos competitividade e qualidade técnica.
Menos participação de novos atletas – Quem tem uma experiência ruim tende a alertar outros corredores. Isso reduz o número de estreantes na modalidade, prejudicando seu crescimento.
Erosão da Confiança do Atleta
O corredor que se dedica à prova investe tempo, dinheiro e esforço no treinamento, esperando um evento bem estruturado. Quando esse compromisso não é respeitado, a relação de confiança com os organizadores se rompe:
Frustração e desmotivação – O atleta sai da prova com uma sensação de descaso e desrespeito, diminuindo seu interesse em competições futuras.
Exposição negativa nas redes sociais – Experiências ruins circulam rapidamente entre corredores, impactando a reputação da prova e reduzindo inscrições nas próximas edições.
Insegurança para futuras competições – A falta de suporte adequado pode resultar em acidentes graves. Após um episódio de risco, muitos atletas ficam receosos de participar de provas semelhantes.
Desconforto físico e emocional – Corridas de montanha exigem concentração e preparo. O estresse causado por falhas organizacionais afeta a experiência esportiva e mina o entusiasmo pelo desafio.
O Caminho Para Reverter o Problema
Para restaurar a confiança dos atletas e garantir que o esporte cresça, organizadores precisam assumir a responsabilidade pela qualidade dos eventos. Algumas ações essenciais incluem:
Ouvir os corredores – Feedbacks de atletas devem ser considerados para ajustes e melhorias nas provas.
Investir na estrutura – Segurança, hidratação e apoio devem ser prioridades para evitar riscos desnecessários.
Cumprir promessas – Desde horários até premiações, o respeito ao atleta passa pela credibilidade dos organizadores.
Manter transparência – Se houve erros, a organização precisa assumir a responsabilidade e trabalhar para corrigi-los.
Medidas Essenciais
O que pode transformar uma competição desorganizada em um evento memorável e seguro? Aqui estão pontos que exigem atenção imediata:
Planejamento profissional – Eventos devem ser organizados por equipes especializadas, com testes de percurso, avaliação de riscos e planejamento detalhado antes da prova.
Comunicação transparente – Os corredores precisam saber exatamente o que esperar. Informações sobre percurso, hidratação, suporte médico e regras devem ser acessíveis e claras.
Respeito ao atleta – Desde kits de participação até a estrutura oferecida, o corredor merece consideração. Isso inclui cumprimento de horários, qualidade dos serviços e suporte adequado durante a prova.
Logística e segurança aprimoradas – A sinalização do percurso deve ser eficaz, o suporte médico bem distribuído e os pontos de hidratação estrategicamente posicionados para evitar riscos à saúde.
Compromisso com a experiência do corredor – A prova deve ser pensada para os atletas, não apenas para o lucro. Garantir segurança e satisfação deve estar acima de qualquer outro interesse.
A Responsabilidade dos Organizadores
Os corredores dedicam meses ao treinamento e investem recursos para participar. Não há espaço para improviso ou negligência. O esporte está crescendo, e com ele deve crescer a responsabilidade dos organizadores. Se queremos um cenário mais profissional e justo, as mudanças precisam acontecer agora.
A pergunta que fica é: até quando vamos aceitar o contrário? Está na hora de exigir mais respeito, estrutura e comprometimento com quem faz o esporte acontecer—os atletas.
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